quarta-feira, 24 de março de 2010

PASTELADA IDEOLÓGICA - Parte 2

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E lá estava eu a me recuperar depois do rápido e flamejante lanche somado a cena que se fez em tal lugar. O Neanderthal, seu megazord-kombi-fritador e pessoas. Pomposo terminara seu rápido lanche de 2 pastéis e um bolinho de aipim com carne assada em dois segundos e eu pagando meu simples pastel. Ah, e lembro a todos que estávamos portando ambos a garapa local. E continuamos a caminhada alcológica pelo bairro de Laranjeiras. Ao chegar a Rua Alice, lá estava ele: o santo Graal aconcretado!

Bar das antigas. Balcão de mogno escuro e peças de bacalhau a balançar no teto, expostas a todos os tipos de coliformes possíveis. Escolhemos a mesa e nos ajustamos ao ambiente, afim de não incomodar os consumidores das mesas vizinhas a nossa. 

Respeitosamente:

Pomposo Says: Boa aquela garapa!

Eu: Sim. Finíssimis! (MUSSUM MODE: ON)

Pomposo: você viu o que aconteceu, né!?

Eu respondi: Bom, é nisso que dá quando você tem a fome mas não sabe o que pedir a um Neanderthal.

Logo, bem integrados ao local como a um camaleão que adéqua suas cores as do ambiente, estávamos a esquecer a esquizofrenia diária de nosso querido trabalho. Ai então profetizo a tão sagrada oração dos bohêmios (isso sim, boHÊmios!):

“... Mal percebi a falta do garçom que de costume nos serve, e tão logo a sede pela vida justificou o pedido maltado...". AMÉM!

E logo o garçom trás o tão cobiçado chopp escuro. Com uma gravatinha borboleta no pescoço, surge então uma figura nada conhecida no lugar: O garçom Chiquinho! Pus-me a ler em seu brevê acrílico, atarraxado ao lado, na camisa.

Chiquinho trouxe nosso chopp escuro no ponto. Belo aroma, pouco colarinho, nem muita pressão. O ideal. O garçom tinha uma cara engraçada. Suas orelhas começavam na jugular do pescoço e só terminavam quase no osso temporal (assistam isso e mais coisas no Discovery Chanel). Quase um duende, se não fosse caucasiano. Em minha mente, imaginei a aproximação de um duende com uma gravata borboleta em formato de trevo de quatro folhas com um pote de ouro em suas mãos. Seus sapatos tinham pontas que enrolavam em formato espiral, para cima e para trás, como o de um verdadeiro anão mitológico. Peguei-me cobiçando o suposto pote de ouro (no caso o chopp) como uma criança que vê chocolate e se torna uma autista em potencial. Quase estiquei os braços e peguei a tulipa antes de ele nos servir.

*Interlúdio: Porra, cadê o Waldir (o garçom, que de costume nos serve)? Perguntei a mim mesmo efusivamente contido, enquanto roia o canto da unha de meu polegar. O Waldir sabe exatamente o que pensamos. Sabe até quando estamos a falar sacanagem da mulher ao lado, ou das sandálias espartanas do Edgar (o dono da TASCA).

Logo se sucede os papos mais fatigantes, do tipo:

São peças de bacalhau pendurada ali?!Isso pode?! E as moscas?!Tem bolinho de Bacalhau hoje, guerreiro?!

Contive o amigo Pomposo, que cobiçou o bacalhau. Coitadinho, iludido por um ser aquático em conserva de sal. Continuei a divagar outras idéias.

Papo vai, papo vem, e logo a fome nos chama de novo. Hora do consumo. Mas o que pedir?

Pensamos em algo sólido e que não fosse alcoólico, já que o efervescente chopp escuro estava lá para isso. Sua virtude não seria ferida assim por nós, formadores de opinião. (JORNALISMO MODE:ON)

Então, o amigo Pomposo lembra a variedade de pastéis infindável que só a Tasca tem. Em nível de informação a todos aqui, informo que são os sabores mais pedidos, perfilados em ordem religiosamente cristã:

Queijo, Carne moída, Frango, Bacalhau com azeitona preta, Camarão, Palmito, Carne seca, Lula e Siri. Praticamente essa lista me lembra a escalação da seleção Brasileira de 1970. Vários ases mencionados acima.

Ai então surgiu a dúvida que não calava nenhum dos nossos pensamentos. Qual seriam os sabores a solicitar? Incerteza.

Pomposo lembra a variedade de sabores com muita facilidade. Ele possuiu a exímia memória de um paquiderme e reproduz foneticamente, com grande velocidade, todos os sabores acima mencionados. E digo mais, ele até deu uma idéia muito da peculiar:

Pomposo Says : O Ed poderia criar um pastel com recheio de blanquet de peru. Seria ótimo!

Eu respondi : Como assim?

Pomposo :  Poderia criar esse recheio e incluir ao cardápio de petiscos, o qual sinto a falta do tal pastel. É Enfadonho.

Eu: Sim, mas de onde diabos você tira a idéia de criar mais um sabor de pastel tendo até os de Siri e de Lula?

Pomposo : Bom, eu gosto deles. Eles são ótimos ao me paladar. Inclusive, de tão bom que é, em casa dou blanquet de Peru para os meus felinos. E eles se lambem de tanto que gostam!

Eu : Como? Para os felinos!? Caramba! Nem eu como isso. Sinto-me um miserável depois dessa falácia!

Pomposo: Pois é! Dou a eles sim!

EU: Okei! Que seja. A propósito, como o faz? Dá a eles cortados em cubos? Perguntei curiosamente.

Pomposo: Não. EM PELES!

EU: Hun!?

Pomposo: Não. Eu dou a eles "EM PELES"!!!

Um pouco mais de profundidade na ultima frase e eu racharia minha bela face no mármore de carrara, que se alinha ao chão.

EU: EM PELES!!!???  COMO ASSIM EM PELES?!!!

Pomposo :  Bom, meu nobre amigo, é EM PELES. É assim!

Eu: Não existem "peles" de Blanquet de peru! Isso está incorreto, meu jovem amigo!

Pomposo: E como não? Nunca ouviste falar das peles fatiadas!? Eu só peço assim quando ao vou mercado. Inclusive, não peço em gramas, peço em quantidade de peles!

Tive que me recompor após essa falácia. Respirei fundo, contive-me tranquilo. Bebi bons goles de chopp escuro e ai sim, devolvi a ele uma informação crucial, enquanto enxugava o buço com guardanapos.

Eu: Apenas animais têm peles, meu algoz amigo.

E ele respondeu: Ah é! Então dá uma ligada nessa aqui, ó!

E o amigo se volta com o semblante refletindo a confiança e se utiliza da exímia técnica muito usada na cadeia alimentar.

Pomposo: E da onde vêm as peles?

Eu: Da carne.

Pomposo: E a carne?

Eu: Do músculo.

Pomposo: E o músculo?

Eu: Do Corpo.

Pomposo: E o corpo?

Eu: Do animal.

Pomposo: Viu! Logo são as peles, seu animal!

A Rua Alice foi acometida por uma seção de risadas sem controle naquela noite. Perdi a caixa preta mesmo diante de todos.

Mais um pouco de cultura e conhecimento do amigo Pomposo e toda a Tasca iria abaixo. Em apenas poucas sílabas.

Depois de uma dessas levei 10 minutos e 2 chopps para me controlar. A informação foi muito grotesca.

 Continua...